sábado, 30 de julho de 2011

ne me quitte pas

Não há uma única música que traduza um sentimento de amor, apesar da maioria tentar. Não há poesia suficiente para descrever as sensações sentidas pelo amor verdadeiro; seja ele correspondido ou corrompido. Não há garrafa de conhaque que suporte o aperto no peito dos que amam em silêncio. Não há breguice que supere os apaixonados. Não há fogo que acabe com a fome dos amantes.
não há o que deveria haver para mim, em você

Je t'inventerai
Des mots insensés
Que tu comprendras
Je te parlerai
De ces amants-là
Qui ont vu deux fois
Leurs coeurs s'embraser
Je te racontrai
L'histoire de ce roi
Mort de n'avoir pas
Pu te rencontrer


domingo, 3 de julho de 2011

arrepio

Ser ou não ser? Eis a questão.

Será mais nobre sofrer na alma pedradas e flechadas do destino feroz, ou pegar-me em armas contra o mar de angústias e, combatendo-o, dar-lhe fim?

Morrer; dormir. Só isso.

E com sono – dizem – extinguir dores do coração e as mil mazelas naturais a que a carne é sujeita; eis uma consumação ardentemente desejável.

Morrer; dormir – dormir, talvez sonhar. Aí está o obstáculo! Os sonhos que virão no sono da morte quando tivermos escapado ao tumulto da vida nos obrigam a hesitar. E é essa reflexão que dá à desventura uma vida tão longa.

Pois quem suportaria o açoite e os insultos do mundo, a afronta do opressor, o desdém do orgulhoso, as pontadas do amor humilhado, as delongas da lei, a prepotência do governante e o achincalhe que o homem paciente recebe dos inúteis, podendo ele próprio encontrar seu repouso com um simples punhal?

Quem aguentaria fardos gemendo e suando numa vida servil, senão temer alguma coisa após a morte? O país não descoberto, de cujos confins não voltou jamais nenhum viajante – nos confunde a vontade, nos faz preferir e suportar os males que já temos, a fugirmos para outros que desconhecemos.

E assim a reflexão faz todos nós covardes.

E assim a força natural da decisão se transforma no doentio pálido pensamento. E empreitadas de vigor e coragem, refletidas demais, saem de seu caminho, perdem o nome de ação.


William Shakespeare