terça-feira, 24 de janeiro de 2012

O vendedor entusiasmado

                Esses dias estava em um dos raros momentos que posso sair com minha mãe sem hora para retornar, dando uma volta no shopping.
Ao entrar em uma loja grande de roupas, o vendedor se aproxima, faz a costumeira pergunta "posso ajudar?" - que sempre tenho vontade de responder: claro, pode começar pagando minhas contas... - seguido de seu nome, Paulo.
Paulo usava o uniforme vermelhinho, calça jeans e um óculos detector de nerdisse, desses quadradões. Tinha o cabelo preto e um olhar entusiasmado.
Na primeira brecha que minha mãe deu, ele desembestou a falar da outra profissão, tratador de imagens. Então ela disse que eu também trabalhava com fotografia e ele começou a discursar sobre. ZzZZzzZzzZZzZz..
Não que o papo fosse chato, ele inclusive falou uma coisa muito interessante, mas não ali em pé, com uma pilha de roupas no braço esperando para serem provadas.
Enfim, o que o moço dizia era que ele leu sei lá onde, que nos o Brasil tem a mesma lei dos EUA, onde só o pessoal formado em comunicação pode trabalhar com fotografia na comunicação (achei estranho, mas parece que era isso mesmo). E ele defendia que isso era um completo absurdo, porque tirava os fotógrafos de verdade do mercado e colocavam ali uma pessoa que aprendeu em alguns meses a mexer com câmera e luz.
Parei para refletir. O menino tinha razão.
Alguém que a partir de uma certa idade, quando desperta o interesse pela fotografia, ou pelo desenho, ou por qualquer arte (sei que não é considerado arte, mas tudo que envolve talento criativo, pra mim, é ), desenvolve desde então a curiosidade e adquire uma certa facilidade para essa prática.
Minha primeira aquisição com a mesada que ganhava aos 10 anos mais ou menos, foi uma Olympus analógica (só tinha essa na época, ok?), com a qual eu brincava de fotografar coisas inúteis. Adorava apertar o botão, ouvir o barulhinho, rebobinar, esperar para revelar.. Achava o máximo e nem sabia quanto gostava dessa coisa de fotografar.
Olha ela aí!
 Aos 16 anos me interessei de verdade por fotografia e ao longo desses seis anos já li boa parte de tutoriais, fóruns e blogs sobre o assunto, até conseguir fazer fotos boas com uma câmera compacta - a saudosa samsung de 5.0 megapixels movida a pilhas. Um horror tecnológico.
Depois de um tempo consegui uma Canon semi-pró que me acompanha até hoje (e espera por um flash externo).
Não acredito que minhas fotos sejam as melhores. Não sou profissional. Mas amo fotografar e aprendi isso com o tempo e com a experiência que só a prática pode trazer. Nunca fiz nenhum curso, somente dispensei horas e mais horas da minha vida explorando a câmera, os ângulos, exposições, passando vergonha ao granular fotos que serviriam para trabalho, etc etc... Mas hoje me orgulho quando alguém conversa comigo e fala 'você que gosta de foto' ou 'queria sua opinião sobre essas fotos'.
Obviamente um talento para fotografia pode estar escondido em um curso de publicidade ou jornalismo, e se desenvolver a partir daí. Mas é mais fácil um fotógrafo trabalhar nesse ramo, que isso acontecer; fotografia é muito chata quando se trata de teoria e mecanismos, apesar de ser extremamente importante..

Mas e o coitado do Paulo, que falou até de Bauhaus, e não conseguiu vender uma peça de roupa pra gente?