Ao entrar em uma loja grande de roupas, o vendedor se aproxima, faz a costumeira pergunta "posso ajudar?" - que sempre tenho vontade de responder: claro, pode começar pagando minhas contas... - seguido de seu nome, Paulo.
Paulo usava o uniforme vermelhinho, calça jeans e um óculos detector de nerdisse, desses quadradões. Tinha o cabelo preto e um olhar entusiasmado.
Na primeira brecha que minha mãe deu, ele desembestou a falar da outra profissão, tratador de imagens. Então ela disse que eu também trabalhava com fotografia e ele começou a discursar sobre. ZzZZzzZzzZZzZz..
Não que o papo fosse chato, ele inclusive falou uma coisa muito interessante, mas não ali em pé, com uma pilha de roupas no braço esperando para serem provadas.
Enfim, o que o moço dizia era que ele leu sei lá onde, que nos o Brasil tem a mesma lei dos EUA, onde só o pessoal formado em comunicação pode trabalhar com fotografia na comunicação (achei estranho, mas parece que era isso mesmo). E ele defendia que isso era um completo absurdo, porque tirava os fotógrafos de verdade do mercado e colocavam ali uma pessoa que aprendeu em alguns meses a mexer com câmera e luz.
Parei para refletir. O menino tinha razão.
Alguém que a partir de uma certa idade, quando desperta o interesse pela fotografia, ou pelo desenho, ou por qualquer arte (sei que não é considerado arte, mas tudo que envolve talento criativo, pra mim, é ), desenvolve desde então a curiosidade e adquire uma certa facilidade para essa prática.
Minha primeira aquisição com a mesada que ganhava aos 10 anos mais ou menos, foi uma Olympus analógica (só tinha essa na época, ok?), com a qual eu brincava de fotografar coisas inúteis. Adorava apertar o botão, ouvir o barulhinho, rebobinar, esperar para revelar.. Achava o máximo e nem sabia quanto gostava dessa coisa de fotografar.
Olha ela aí! |
Depois de um tempo consegui uma Canon semi-pró que me acompanha até hoje (e espera por um flash externo).
Não acredito que minhas fotos sejam as melhores. Não sou profissional. Mas amo fotografar e aprendi isso com o tempo e com a experiência que só a prática pode trazer. Nunca fiz nenhum curso, somente dispensei horas e mais horas da minha vida explorando a câmera, os ângulos, exposições, passando vergonha ao granular fotos que serviriam para trabalho, etc etc... Mas hoje me orgulho quando alguém conversa comigo e fala 'você que gosta de foto' ou 'queria sua opinião sobre essas fotos'.
Obviamente um talento para fotografia pode estar escondido em um curso de publicidade ou jornalismo, e se desenvolver a partir daí. Mas é mais fácil um fotógrafo trabalhar nesse ramo, que isso acontecer; fotografia é muito chata quando se trata de teoria e mecanismos, apesar de ser extremamente importante..
Mas e o coitado do Paulo, que falou até de Bauhaus, e não conseguiu vender uma peça de roupa pra gente?
Nenhum comentário:
Postar um comentário