Mal posso acreditar que tenho limites. Sou recortada e definida. Sinto-me espalhada no ar, pensando dentro das criaturas, vivendo nas coisas além de mim mesma.
Quando me surpreendo ao espelho não me assusto porque me ache feia ou bonita. É que me descubro de outra qualidade.
Depois de não me ver há muito, quase esqueço que sou humana, e sou com a mesma libertação de fim de consciência quanto uma coisa apenas viva. Essas curvas sob a blusa vivem impunemente? Por que caladas?
Até que uma frase, um olhar - como o espelho - relembram-me surpresa outros segredos, que me tornam ilimitada.
Fascinada, mergulho o corpo no fundo do mar, calo todas suas fontes e, sonâmbula, sigo por outro caminho: analiso instante por instante, percebo o núcleo de cada coisa feita, de tempo e de espaço.
Possuir cada momento, ligar a consciência a eles como pequenos filamentos quase imperceptíveis, mas fortes.
É a vida?
Mesmo assim ela me escaparia.
Outro modo de captá-la seria viver?
Mas o sonho é mais completo que a realidade, ela me afoga na inconsciência. O que importa afinal: viver ou saber que está vivendo?
Sinto a forma úmida debatendo-se dentro de mim. Mas onde está o que eu quero dizer? Onde está o que eu devo dizer?
Inspirai-me. Eu tenho quase tudo; eu tenho o contorno à espera da essência.
O que fazer? Utilizar-se de corpo e alma em proveito do corpo e da alma? Ou transformar minha força em força alheia?
Ou esperar que de mim mesma nasça, como consequencia, a solução?
Nada posso dizer ainda dentro da forma.
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